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Quando o Universo Achou que Eu Precisava de Mais Emoção
Laboratório do Ser - Edição #002
O diagnóstico
“Carcinoma invasivo”. O coração disparou.
Não. Não podia ser.
Será que eu tinha lido certo?
Será que eu sabia mesmo o significado de carcinoma? Eu nem sou médica.
Vou reler.
“Carcinoma invasivo. HER 2 positivo”. As palavras saltavam da página, gritavam, me apunhalavam.
Fiquei tonta. Acho que meu cérebro ficou zonzo para me impedir de processar aquilo, buscando alguma forma de me proteger.
Olhei para meu marido. Falei: “Estou com câncer". Saiu desse jeito mesmo, na lata. Sem floreios. Em estado parcial (ou total) de choque.
Vi toda a cor se esvaziar do rosto dele. Ele ficou pálido. Senti a respiração ofegante, o olhar meio enlouquecido, o terror estampado em sua pele.
No pico de adrenalina, que corria pelo meu sangue pensei: “Tenho 45 anos, uma filha de que acabou de fazer 6 anos e outra de 9. Elas vão ficar sem mãe. Vou morrer e elas vão ficar sem mãe.”
Chorei.
Não, não chorei. Solucei. O medo transbordava por cada poro, cada célula do meu corpo.
Vou morrer.
E agora?
O que preciso fazer que ainda não fiz?
Quanto tempo resta?
Como minha família vai sobreviver a isso?
Apesar de todo o autoconhecimento e trabalho interno que eu já vinha fazendo há anos, nada havia me preparado para essas duas palavras: carcinoma invasivo.
Não adianta, sou muito humana e não vou fingir que foi fácil.
Pensei o pior. Tremi. O medo não me deixava raciocinar. Toda a minha capacidade de pensar de forma calma e coerente evaporou naquele instante. O cérebro reptiliano — voltado para a sobrevivência — tomou conta de todos os espaços da minha mente.
Milhares de pensamentos incoerentes, negativos e repetitivos ecoavam dentro da cápsula minúscula do meu cérebro. Fiquei sem ar.
Passei as próximas 24 horas em pleno modo de sobrevivência. Para ser sincera é até difícil lembrar o que aconteceu depois do laudo da biópsia. Fui seguindo, cumprindo tarefas como um zumbi, no piloto automático. De vez em quando uma crise de choro me acometia e eu me sentia frágil diante da imensidão do ciclo vida-morte-vida.
Lembro que não dormi a noite toda. Tive taquicardia, crise de pânico. Tentei usar todas as técnicas de respiração que conheço: respiração quadrada, respiração alternada tapando uma das narinas... Como não estava adiantando, tentei colocar uma música e meditar. Como diz minha mãe, foi pior a emenda que o soneto. Péssima ideia.
Quanto mais eu tentava afastar os pensamentos vilãos, mais eles tomavam conta de mim. Dei uma risada de desespero e pensei: “Agora senti na pele o que sempre ensinei. Quanto mais queremos rejeitar uma coisa, mais próximos ficamos dela".
Fiquei praticamente 24 horas sem comer. O apetite fez as malas e tirou férias, junto com a parte racional do meu cérebro.
Não bastasse o susto inicial, descobri que o tipo de câncer de mama era mais agressivo. Não era hormonal. Era HER 2 + (e eu até então nem sabia que existiam diferentes tipos de CA de mama). Mas as notícias eram boas: tínhamos encontrado bem no início. Era só operar. Bom prognóstico.
A partir daí entrei em um universo novo e fascinante de exames e siglas complexas. O meu oncologista pediu um PET scan. Como se não bastasse a surpresa original do câncer ser mais agressivo, ele tinha espalhado para a axila. Stage 2.
Mais um baque. Eu teria que adiar a cirurgia para começar quimioterapia.
Nessa hora entendi que eu tinha uma escolha a fazer: escolher a morte ou escolher a vida.
Com um olho na doença, mas a vela do meu barco cheia de vida, comecei a remar. Aprendi com Reverb Poesia que: “A maré de sorte só chega para quem um dia aprendeu que os ventos sempre mudam de direção. E não deixou de remar. Porque ninguém aprende a nadar na areia.”
Sugiro ler o restante da Newsletter ouvindo essa música - O Mar Ensina.
"Não são os ventos que decidem o rumo do navio, mas o capitão.”
Trauma com t minúsculo
Desde o diagnóstico, venho estudando sobre Trauma com diversos autores diferentes, Peter Levine, Bessel van der Kolk… mas meu preferido é o Dr. Gabor Maté.
A palavra “trauma” se tornou quase um chavão em nossa sociedade. A concepção habitual de trauma nos remete a ideias de acontecimentos catastróficos: furacões, abuso, negligência, guerra, um diagnóstico de câncer. Esses são o que podemos chamar de Trauma com T maiúsculo.
Porém, existem os traumas com t minúsculo. Segundo o Dr. Gabor Maté “O trauma, na verdade, permeia nossa cultura, desde o nível pessoal até as relações sociais, parentais, a educação, a cultura popular, a economia e a política.” Não existe ninguém sem marcas de algum tipo de trauma na nossa sociedade.
Sendo assim, “trauma não é o que acontece com você, mas sim o que acontece dentro de você”, segundo o Dr. Gabor Maté. É o resultado das feridas internas. Esses traumas com t minúsculo podem acontecer por causa de bullying, dos comentários ásperos casuais — mas frequentes —, de pais bem-intencionados que não sabiam fazer diferente porque estavam carregando as marcas dos seus próprios traumas, ou mesmo apenas por uma falta de vínculo emocional suficiente com os adultos cuidadores.
Em seu livro: “When The Body Says No”, Gabor diz que, na maior parte dos casos de câncer de mama, os traumas estão velados e o stress que a pessoa sofre pode ser crônico.
Um estudo alemão de 1982, apresentado no IV Simpósio Anual de Prevenção e Detecção de Câncer, em Londres, constatou que determinados traços de personalidade têm uma forte associação com o câncer de mama.
Cinquenta e seis mulheres internadas no hospital para biópsia tiveram avaliadas características como supressão emocional, racionalização, comportamento altruísta e “evitação” de conflitos. Os pesquisadores conseguiram prever com altíssimo índice de acerto (94%) quais mulheres teriam células malignas baseado apenas em fatores psicológicos.
Outras pesquisas subsequentes (não vou listar todas aqui para não ficar chato) revelaram que mulheres que se sentiram mais desconectadas dos seus cuidadores na primeira infância, e que desenvolveram como mecanismo de defesa suprimir suas emoções, principalmente a sua raiva, eram mais suscetíveis a desenvolver câncer de mama na vida adulta.
Como eu trabalho com mulheres, isso me chamou a atenção, porque muitas de nós fomos educadas para sermos “boazinhas” ou “people pleasers".
Pelo amor de Deus, não estou dizendo que toda mulher "boazinha” vá desenvolver câncer de mama. Cuidado com as armadilhas do pensamento!
O pedido é apenas que você investigue amorosamente:
Quando você era criança e estava se sentido triste, magoada ou com raiva, você tinha alguém com quem conversar sobre esses sentimentos negativos ou não existia espaço para eles e te ensinaram a reprimi-los?
Quero muito saber a sua resposta. Me manda um direct no Instagram ou me responda por aqui.
Você podia expressar as suas emoções sem ser ignorada ou castigada?
Você é amada pelo que é, ao invés de pelo que faz?
Você sente que você é o suficiente?
Não quero com todas estas reflexões culpar os meus pais, nem a mim mesma por ter tido câncer. Só que havia chegado a hora de revirar as minhas gavetas.
Não busque nos galhos o que só encontrará nas raízes
Eu nasci em uma família nômade. Sou filha de diplomata e, por isso, mudei de país a cada três anos. Tive muitos ganhos com essas mudanças: com 10 anos eu já falava seis línguas fluentemente, tinha apreciado diferentes tipos de cultura e todo tipo de realidade.
Mas… de tanto mudar, eu não sabia quem eu era. Por mais que estivesse ganhando muitas coisas, eu vivia a cada três anos grandes perdas. Sentia que estava apenas construindo castelos na areia e logo mais viria a onda da mudança para destruir tudo que eu havia criado. Como era difícil deixar a vida que eu conhecia para trás e recomeçar. Para uma criança pequena, eram esses os meus traumas com t minúsculo.
Também tiveram outros com T maiúsculo, mas isso é assunto para outra edição. Ou não.
Eu nasci em Brasília e ganhei o meu primeiro papel na vida: o de filha! Sou filha, logo existo.
Com 1 aninho me mudei para Washington, nos Estados Unidos. Foi lá que me tornei irmã mais velha. Aprendi a dividir.
De lá seguimos para a Costa do Marfim, na África. Que mudança! Lembro da alegria dos Africanos, da dança, do calor, das praias, da natureza selvagem. Lembro também da miséria, das crianças com os barrigões cheios de vermes, da malária, da fome. A Costa do Marfim me ensinou a incluir, a pensar no coletivo, a não julgar.
Aos 8 anos fui morar na Áustria. Que choque de realidade! Me encantei pela princesa Sissy e seus castelos, pela neve, o esqui, o belo.
Aos 11 anos mudei de novo. Desta vez chegamos a Brasília e vivenciei pela primeira vez a cultura do meu país. Estranhei. Eu não pertencia a este lugar. Aprendi sobre a dor de não se encaixar.
Cheguei em Genebra, na Suíça, com 15 anos e aprendi sobre o valor da amizade. Carrego elas comigo até hoje. Aprendi que “nada é para sempre” e eu precisava também deixar aquele mundo ir. Não foi fácil. Aos 18 anos voltei para o Brasil mas só por 1 ano.
19 anos. Fui morar em Nova Iorque. Fiz faculdade de finanças e marketing na NYU e segui para um emprego que eu não amava, em Wall Street. Aprendi que dinheiro é muito bom, mas se você só trabalha por ele, sua vida é muito vazia e sem sentido.
Voltei para o Brasil aos 25 anos. Na época eu não sabia, mas vim para cá para me curar. Entendi que não adianta buscar nos galhos o que só encontramos nas raízes. O câncer era um chamado para eu ocupar o meu lugar.
Atravessando Abismos: Coloque o pé, Deus coloca o chão
Enfrentei o meu medo do grande desconhecido — a morte — com toda a coragem que me coube e aprendi que quem teme a morte, no fundo também teme a vida. Só estaremos inteiros na vida quando nos abrirmos para as pequenas mortes que vamos enfrentar ao longo do caminho.
Cada encerramento de ciclo é uma oportunidade para o novo brotar. O fim de um relacionamento. A ruptura de uma amizade. A morte dos seus pais ou um parente querido. A perda de um emprego. Todos esses eventos são encerramentos de ciclos. Portas fechando, portas abrindo.
A natureza da vida é cíclica. As plantas nos mostram isso. Florescem na primavera, dão frutos e exalam toda a sua grandeza no versão. Perdem as suas folhas no outono e estas desaparecem no inverno… e depois tudo renasce. Esse é o ciclo VIDA-MORTE-VIDA.
Quem não tem fé na vida, não tem fé em si mesmo. Cabia a mim confiar.
Para mim, confiar é encontrar conforto no “eu não sei". Pode parecer paradoxal, mas não saber o que você está buscando é a chave. Se eu já sei o que estou buscando, estarei buscando mais do mesmo. O princípio do pensamento socrático é: “Só sei que nada sei” e assim, vou me abrindo para a vida, deixando que ela me toque.
Sempre me vem à mente uma cena do filme Indiana Jones, acho que era Caçadores da Arca Perdida (entreguei a idade agora haha). Em algum momento ele tem que atravessar um abismo muito grande, sem chão. Mas a cada passo que ele dá, uma pedra aparece debaixo do pé dele, para sustentá-lo. A clareza vem com o caminhar. Coloque o pé, Deus coloca o chão.
"Não importa o que aconteceu, você tem o direito de recomeçar.”
A Vida é tipo Jumanji
Duas semanas após o diagnóstico, colei um post-it com a Oração da Serenidade no espelho do meu banheiro: "Deus, conceda-me a serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, a coragem para mudar as coisas que posso e a sabedoria para saber a diferença."
Decidi focar nas pequenas coisas que eu podia controlar. Além de revirar as minhas gavetas e aprender a confiar, ouvia toda noite a Meditação da Louise Hay: “Heal Your Body”. Vou deixar no final da Newsletter a versão em português também.
O câncer de mama me obrigou a olhar mais para mim, a me permitir ser cuidada, a olhar para a minha ancestralidade feminina e minhas crenças distorcidas sobre o que é ser mulher.
Na minha cabeça era impensável que eu pudesse crescer meu negócio ao entrar em profundo contato com minha energia feminina. Eu achava que eu precisava estar naquela “fazeção”, que já tinha me causado até um burnout para prosperar. O que eu não sabia é que esse resgate da minha intuição, do meu feminino e da minha vulnerabilidade também me abriria para a prosperidade.
Fui me nutrindo de mim. Parei de colocar os outros sempre em primeiro lugar e priorizei os meus sonhos.
O resultado?
✨ 26/04/2021, apenas 2 meses depois da primeira quimio, recebi um pet scan limpo, sem câncer!!!
✨ 06/07/2021 depois da retirada dos dois seios (fiz a mastectomia radical), tive a melhor notícia de todas: resposta completa.
✨ Em 2022 minha equipe aumentou e o faturamento da minha empresa triplicou. Levei minha mensagem, através das cartas sistêmicas da minha Editora, para mais de 20 mil famílias. Meus cursos contam com mais de 500 alunas. Subi no palco do Mastermind A Trilha do Marcus Dutra e da Mycaela Borges para contar a minha história.
As 5 maiores lições que o câncer de mama me trouxe:
1) Todo mundo pensa em desistir. Só que quem desiste não colhe os resultados. A escolha de remar é 100% sua.
2) Você é capaz de realizar coisas incríveis quando começa a olhar para dentro. Não busque nos galhos o que só pode encontrar nas raízes.
3) Existe algo Maior que te ama e te guia. A vida é sempre benigna. Coloque o pé, Deus coloca o chão.
4) A natureza da vida é cíclica. Não importa o que aconteceu, você pode e deve sempre recomeçar.
5) A Vida é tipo Jumanji. Ou você chega no fim do jogo e grita Jumanjiiiiii para cada processo ou desafio que a vida traz, ou você morre no jogo e fica com a sua vidinha chata.
JUMANJIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
Tô pronta para o próximo nível
💌 Um Convite Especial: Se você é mulher e quer resgatar a sua potência feminina, te convido para O NOVO FEMININO, meu evento online 100% gratuito onde você finalmente vai aprender como colocar a sua voz no mundo. (clique no nome do evento para se inscrever)
No meu livro Travessia: Sintonize-se com o Seu Propósito você aprende a sintonizar o que veio fazer junto aos outros. Recomendo para quem quer recomeçar.
📚 O que estou lendo: Ferramentas dos Titãs - Tim Ferriss
🎵 O que estou ouvindo: O Mar Ensina - Reverb Poesia
🧘🏻♀️ Para você que quer um incentivo para recomeçar:
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Bruxa Cientista da minha amiga e astróloga Fabi Ormerod
Na próxima edição #003
Na próxima edição vou falar sobre “Como tomar decisões de forma eficaz”. Até a próxima edição do Laboratório do Ser.
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✍️ Escrita por Andrea Felicio compartilhando experiências pessoais ao redor dos temas: Mentalidade, Mulheres e Marketing.