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A Surpreendente História do Assalto que Revelou Meus Dons

Laboratório do Ser - Edição #007

Bonnie and Clyde “à Carioca”

Era véspera de Natal no Rio de Janeiro, uma noite quente e úmida, quando eu e meu ex-namorado decidimos sair para um chope com um amigo que tinha levado aquele famoso “pé na bunda.” Na pressa, saímos com vinte reais no bolso, mas muito calor humano para confortar nosso amigo.

Saímos do boteco em Ipanema, e a brisa quente era um presságio do que estava por vir.

Tentávamos retirar a trava do volante do carro para voltarmos para casa quando ele apareceu. Um homem saiu das sombras.

Confesso que achei que fosse um guardador de carros e falei para o meu namorado: “Dá logo os vinte reais para o cara.”

Ele respondeu com a voz basculante e tensa: “Andrea, Andrea….”

Silêncio.

Em menos de 10 segundos o homem estava ao meu lado e senti um revólver gelado pressionado contra minha costela. Um arrepio percorreu a minha espinha.

Olhei nos olhos do assaltante, e no rosto dele - marcado por espinhas e cicatrizes -, vi uma mistura de nervosismo e desespero, como se ele também estivesse acuado pela situação. Era a típica face de alguém que, assim como eu, estava naquele lugar por força das circunstâncias e não por escolha.

É difícil relatar o que ocorreu, mas uma serenidade incomum me invadiu naquele momento tenso.

Naquele momento ele não era um mero "assaltante", um rótulo. Não coloquei o cara numa caixinha. Eu vi uma pessoa, um ser humano que tinha passado por muita dor e sofrimento que, por alguma razão, acreditou que aquele caminho sombrio, do assalto, era o melhor para ele.

Fiquei observando-o, curiosa. Eu queria saber um pouco mais sobre quem ele era, mas não ousei perguntar. Em vez disso, mantive meu olhar fixo nos dele, enquanto a arma permanecia firme contra minha costela, como uma serpente venenosa prestes a dar o bote.

Ele me empurrou com sua arma para que eu entrasse rapidamente no carro, antes que passasse alguém e o pegasse no flagra.

Não sei de onde tirei tanta paz naquela hora, mas eu disse: “Vou entrar, mas só quero saber uma coisa: vai ficar tudo bem?"

Ele me olhou como se eu fosse uma criatura mágica, um ser de outro mundo que há muito não passava por ali. Me senti como um unicórnio cintilante naquele beco escuro. Sorri interiormente com meus pensamentos malucos.

Repeti a pergunta, fitando seus olhos com calma e determinação. “Vai ficar tudo bem? Se você me disser que vai ficar tudo bem, eu entro.” Meus olhos captavam a alma dele, meu coração dizia: “Eu vejo você”.

Ele continuou me olhando, perplexo. Acho que estranhou minha voz calma e serena, meu olhar de curiosidade, querendo que ele se revelasse para mim.

Lentamente, como se estivesse em um Universo paralelo, me respondeu: “Vai ficar tudo bem.”

Entrei no carro.

Ele sentou no banco do passageiro ao lado do meu namorado e eu fui para o banco de trás. Quando eu estava prestes a fechar a porta do carro, uma mulher entrou com pressa. Era a esposa dele.

Eu só lembro de pensar: Meu Deus, são igual Bonnie and Clyde, o famoso casal de assaltantes daquele filme do Velho Oeste, estrelado por Warren Beatty. Bonnie and Clyde “à carioca", é claro…

Ficamos vagando pelas ruas, entre Ipanema e Leblon. Ele arrancando o rádio do carro, ela vasculhando os itens da minha bolsa: meus vinte reais, o celular da empresa. Lembrei que também tinha um gloss da Victoria's Secret na minha bolsa.

“Quer um gloss? É da Victoria's Secret", ofereci. Acho que ela não entendeu nada. Não quis o gloss.

Ele queria mais dinheiro, mas contamos a verdade sobre o resgate do amigo que estava numa pior. Meu namorado, por acaso, tinha uns CDs da banda dele no carro, que oferecemos como moeda de troca.

Nesse momento, ele parou e começou a me olhar, surpreso. Os olhos deles penetraram os meus, cheio de curiosidade, como se estivesse me vendo de verdade pela primeira vez.

“Que tipo de música você gosta?”, ele perguntou, curioso.

“Gosto de MPB, de rock, de pop….gosto de muitos estilos”, respondi. “E você?”

Assim começou nossa conversa sobre música e, pouco a pouco, ele foi se abrindo. Me contou onde morava, que tinha filhos e que não queria levar aquela vida. Mas, era véspera de Natal e ele não tinha dinheiro para comprar presentes para as crianças.

“Você também tem filhos?"

Respondi que não, mas que um dia gostaria de ser mãe.

Já que ele estava me perguntando coisas, arrisquei: “Sabe, você é pai. Essa “profissão” de assaltante não parece ser muito legal nem para você nem para os seus filhos. Imagina se você toma um tiro. Quem vai criar as crianças?”.

Ele ficou mudo.

Continuei, com cautela e muito respeito: “Já pensou em ser flanelinha? Olha, quando você chegou perto do carro eu achei que você fosse um guardador de carros e eu ia te dar uma grana por ter ficado de olho nele. Essa profissão seria mais segura para você, não acha? Pelo menos enquanto você reergue a sua vida.”

Ele continuou prestando atenção.

Decidi arriscar mais umas perguntas corajosas. No meio do assalto, fiz uma sessão de “coaching relâmpago”. Na época eu não conhecia o termo "coaching”, nem sabia do meu dom de ajudar os outros a descobrirem o melhor de si mesmos.

Fui conversando com ele como se fosse apenas um amigo. Ele era uma pessoa comum. Um ser humano, nem melhor nem pior do que eu.

Muito humano, assim como eu.

Batemos tanto papo que no final ele olhou para a esposa e disse: "Cara, eu não quero assaltar essas pessoas. Eles são legais demais!”

Daí ele se virou para mim e disse: Sabe o que mais me chamou a atenção em você?"

Achei prudente não responder.

“Você é muito calma. Não ficou assustada em ver a minha arma. Puxa, agora me sinto mal de ter apontado a arma para você. Me perdoa? Espero que não deixe nenhum trauma."

Para o meu alívio, ele abaixou a arma e começou a restituir os meus pertences. Com o olhar envergonhado, acariciou o painel do rádio, que ele tinha acabado de arrancar com uma chave de fenda, como se quisesse desfazer o estrago e apagar os arranhões deixados em nossa vida.

Ao sair do carro ele me abraçou e desejou Feliz Natal, deixando a sua esposa visivelmente frustrada. “Vamos logo, deixa disso, para de alisar essa mulher." Com essa frase ela arrastou o marido para longe.

Meu corpo todo tremia, e eu me permiti chorar.

Epílogo: Reviravolta Carnavalesca

E você acha que a história acabou por aí, não é???

Alguns meses depois, no Carnaval, eu estava no carro contando sobre o assalto para a Moara, minha prima de São Paulo. Estava um calor infernal e a gente queria estacionar o carro em Copacabana para ir à praia. Quando olho pela janela e vejo o flanelinha, quem era????

ELE!!!

Não sei seu nome até hoje. Talvez eu devesse ter perguntando, mas pouco importa. ELE abriu um sorriso largo e exclamou: “Não acredito!!! É você!!!”.

Retribuí o sorriso e disse: “Vejo que você resolveu seguir meu conselho! Essa profissão de guardador de carros é muito melhor para você a para a sua família! Como estão os seus filhos?".

Ele olhou com carinho nos meus olhos e respondeu: “Deus está me ajudando. Depois que te conheci, você me fez pensar sobre muita coisa. Você mudou a minha vida. Só posso agradecer".

Demorou a cair a ficha, mas naquele momento eu entendi algo importante sobre mim mesma: eu tinha o dom da palavra, o dom de ajudar os outros a descobrirem o melhor de si. Eu tinha o dom de não julgar, uma habilidade que desenvolvi vivendo em diferentes lugares do mundo.

Foi nesse assalto, no meio da escuridão, que comecei a ter uma vaga noção de que eu não iria ficar construindo planilha Excel para sempre.

O que são Dons e Talentos?

Os nossos dons e talentos são os presentes que trouxemos para entregar para o mundo. É tudo aquilo que você faz muito bem e com facilidade. Além disso, geralmente você pode executá-los mais rápido do que a maioria das pessoas, mas isso não importa tanto. Você pode pensar nos dons e talentos como os superpoderes exclusivos que você carrega.

Imagine, por exemplo, o dom da empatia. Você tem a capacidade de sentir as emoções dos outros e compreender seus sentimentos profundamente. Isso não só o torna um ótimo ouvinte, mas também um conselheiro excepcional e um amigo inestimável. Em essência, você é um "emoticon" humano, traduzindo as emoções para aqueles ao seu redor.

Outro exemplo é o talento para a comunicação. Talvez você tenha o dom de falar e escrever de maneira que as palavras ganhem vida. Você cativa as pessoas com suas histórias, e suas palavras inspiram ação. Isso torna você um verdadeiro contador de histórias, capaz de tocar o coração das pessoas e motivá-las como um maestro conduzindo uma sinfonia de emoções.

Não é possível ser realmente próspero sem compartilhar os seus dons e talentos com o mundo. Ao reconhecer o que você veio fazer junto aos outros e abraçar os seus dons com todo seu coração, você ganha clareza sobre a contribuição única que pode oferecer. Essa consciência permite que você cuide melhor do seu propósito, permitindo que ele cresça e guie você no seu caminho.

O Ego é o Seu Inimigo

As pessoas ficam tão focadas na busca pelo propósito ou na próxima tarefa a cumprir que acabam negligenciando o que realmente têm para oferecer.

Quantas vezes você começou um emprego novo e realmente pensou: “Como eu posso contribuir neste ambiente de trabalho?” Sejamos honestos, a maioria de nós começa um emprego novo com os pensamentos como: “O que esse emprego oferece para mim? Quanto eu vou ganhar? Há oportunidades de crescimento? Será que vou ser promovido?"

Saia de uma vez por todas do seu umbigo. Você não é tão importante, nem tão inteligente quanto imagina.

Todo Mundo Tem Um Propósito, Menos Eu

Eu acredito que a ideia de um único Propósito de vida, com “P” maiúsculo, não faz o menor sentido.

Imagine perguntar a uma criança: “O que você vai ser quando crescer??” Não faz sentido porque propósito não é fixo!!!

Você não é a mesma pessoa que era há 10 anos, há 15 anos. Você passou por desafios, caiu em alguns buracos, superou obstáculos e cresceu. Todas essas experiências moldaram que você é, ou seja, o caminho moldou você. Se você mudou, não faz o menor sentido que seu propósito continue sendo o mesmo, concorda?

Você não tem um propósito especial que deve encontrar!!!!

A sua existência, por si só, já é extraordinária. Existem 7,6 bilhões de pessoas no mundo e NENHUMA delas é igual a você.

Acho impressionante a quantidade de pessoas que compartilham na minha caixinha no Instagram: “Estou me sentindo travada porque não tenho um propósito de vida claro”, como se fosse obrigatório ter um propósito grandioso para se nortear. Como terapeuta, isso é o que mais ouço.

A “prisão” de ter um propósito de vida definido, como se a jornada do herói fosse obrigatória, faz muito mal.

O Caminho Se Faz Caminhando

Quando não há um propósito claro a seguir, caminhe. Aos poucos você encontra e ocupa o seu lugar no mundo. O caminho se faz caminhando.

Não adianta você querer encontrar o seu propósito se você não tem ideia de quem é e do que tem para oferecer.

“A principal missão do homem, na vida, é dar luz a si mesmo. Tornar-se aquilo que ele é potencialmente.”

Erich Fromm

Resgatando tesouros escondidos

Primeiro, responda a algumas simples perguntas e poderosas. Quanto mais a fundo você for neste exercício, mais resultado alcançará! Recomendo tirar um tempo para você, colocar uma música, acender uma vela, pegar um chá ou sua garrafa de água e ficar confortável antes de fazer o exercício que vou propor.

1 - Com qual frase você se identifica no mundo?

2 - Liste alguns livros mais marcantes em sua vida. Por que cada um marcou você?

3 - Liste alguns filmes que você mais gostou. Por que você gostou de cada um deles? O que aprendeu?

4 - Volte a uma época do seu passado. Pode ser 30, 20 ou 15 anos atrás, o que fizer sentido para você.

Eu gosto de dividir a vida em setênios - de 0-7 anos, 7-14 anos, 14- 21 anos, 21-28 anos, e por aí vai. Vou deixar aqui um gráfico da antroposofia para te ajudar neste exercício.

O que você amava fazer nessa época? Baseado nessas lembranças, escreva quais eram os seus interesses?

5 - O que deixa você feliz?

6 - No que você acredita? O que defende?

7 - O que você faria se não existisse dinheiro? Aqui não vale escrever “escambo". Nessa troca, o que você produziria? Por quais coisas você trocaria o que produziu?

8 - Resgate os seus sonhos. Tente se lembrar do que você gostava quando era criança. Escreva sobre as brincadeiras, jogos, diversões, amigos e sonhos que você tinha. Faça uma lista de tudo que vier. Essa lista lhe dará pistas sobre os seus dons e talentos.

9 - Esses interesses ainda te satisfazem ou foram mudando ao longo do tempo?

10 - Ao olhar para seus interesses, pense em que tarefas/atividades pareciam fazer o tempo voar. Liste as atividades que faziam você esquecer do tempo.

11 - Liste as atividades que você faz hoje que te satisfazem? O que te dá prazer na vida?

12 - Para cada atividade que você listou, liste os dons e talentos que você utilizou. Por exemplo: eu gostava de jogar futebol. Meu talento é realizar “atividades em equipe".

No meu livro Travessia: Sintonize-se com o Seu Propósito, incluí várias ferramentas para te ajudar com este exercício. Para adquirir o livro clique no link.

alguns depoimentos sobre o meu livro

Obrigada por me acompanhar nesta exploração dos dons e talentos. Espero que tenham sido inspirados a abraçar e compartilhar o que têm de único com o mundo. Continuem a brilhar intensamente, pois este é o verdadeiro presente que vocês oferecem ao Universo.

Com gratidão e inspiração,

Déa Felicio

✨ Para resgatar os seus Dons e Talentos


📚 Curso A Trilha - Sintonize-se com o seu propósito, um mergulho profundo em tudo que faz você ser você.

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Alquimia da Mente do meu mentor Henrique Carvalho, que é uma inspiração para mim. Tenho o privilégio de aprender com ele sobre como transformar a escrita em uma forma de sustento.

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Copy Letter a última edição da Newsletter do Lucas quebra vários paradigmas sobre a rodinha dos ratos à qual nos submetemos quando corremos atrás de diplomas e mais diplomas. Um dia quero escrever tão bem quanto o Lucão…

Na próxima edição #008

  • Na próxima edição, o que será que vou revelar sobre a superficialidade das redes sociais, especialmente o Instagram? Fique ligado para uma reflexão que vai mudar a forma como você enxerga suas interações online.

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✍️ Escrita por Andrea Felicio compartilhando experiências pessoais ao redor dos temas: Mentalidade, Mulheres e Marketing.

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