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Quando o Corpo Diz "Chega!": Desvendando a Ciência do Hábito

Laboratório do Ser - Edição #005

O Dia em que Meu Corpo Disse “Chega!”

O dia estava nublado. Como de costume, uma garoa fina abraçava São Paulo. Estava numa reunião enfadonha (e também cinzenta) com o meu chefe, aquele mesmo que me surpreendeu com um sorvete Farofino sem gosto na Edição #004 da Newsletter.

Enquanto revisávamos o material para a apresentação ao comitê de Investimentos da Telefônica, a necessidade urgente de obter financiamento para lançar a TV via satélite no prazo estipulado pairava como uma sombra.

Não tinha jeito. Convencer a empresa a liberar mais grana era uma tarefa para poucos - sobrou para mim.

De repente, no meio da reunião, meu coração começou a acelerar, como se ele fosse sair pela boca. Era como se eu tivesse corrido a São Silvestre em segundos.

Eu lutava para puxar o ar para dentro dos meus pulmões, mas eles pareciam balões murchos. Fiquei tonta. Achei que eu fosse desmaiar.

Fiz uma rápida verificação do meu pulso. 110 BPM. Muito alto para alguém que estava apenas sentada em uma sala de reunião.

Falei para o Marcão, meu colega de equipe: “Não estou nada bem. Acho que estou enfartando. Sorte que estamos do lado da Beneficência Portuguesa.”

Ele me olhou meio desconfiado, mas sem hesitar me levou até o hospital, que ficava a uma quadra do escritório.

Na triagem mediram minha pressão, meus batimentos, minha oxigenação. Meu coração continuava acelerado, como um motor em alta velocidade. Pediram um eletrocardiograma, aquele teste que traça um monte de linhas complexas em um papel.

Nada. Coração normal.

Me disseram que era crise de stress e me mandaram embora.

Não dei ouvidos. Achei tudo aquilo uma bobagem. Eu não estava estressada, eu não era uma pessoa estressada. Pelo menos era o que eu acreditava.

Durante as semanas seguintes, episódios semelhantes se tornaram recorrentes. Certa vez acordei minha tia às 3 da manhã e pedi para ela me levar para o Einstein, convencida de que eram os meus últimos cinco minutos de vida na Terra.

Visitei os hospitais diversas vezes, cada vez mais desesperada e sem entender o que estava acontecendo comigo. Continuei em negação, relutante em aceitar o diagnóstico de estresse. Afinal, eu não era uma pessoa estressada.

Eu sou cabeça dura, sabe? Resolvi marcar um cardiologista. Acreditava que somente um especialista poderia confirmar o que eu acreditava: que meu coração estava prestes a me trair.

Você já imagina a resposta? Meu coração estava mais saudável do que o de um atleta. Não havia nada de errado com ele. Eu tinha Transtorno da Ansiedade Generalizada, com episódios de pânico.

Ele recomendou um psiquiatra.

Descobertas no Divã

Relutei, mas acabei indo em a um psiquiatra amigo da minha tia, o Dr. Engels.

Hoje reconheço que o estigma em torno das doenças mentais, como depressão, ansiedade, transtorno bipolar e outros, ainda persiste. O preconceito muitas vezes nos impede de buscar ajuda e acaba retardando o diagnóstico e, por consequência, o tratamento, prejudicando o bem-estar geral dos pacientes que sofrem em silêncio.

A verdade é que ansiedade (e depressão) não tem endereço. Não se interessa pela sua conta bancária. Não se interessa pela sua inteligência.

O diagnóstico ainda é difícil, os tratamentos nem sempre são eficazes (30% dos casos de depressão não respondem aos medicamentos) e as causas permanecem obscuras. Muitas vezes quem está ao redor não consegue ajudar.

Cheguei ao consultório do Dr. Engels sem acreditar muito nesse diagnóstico. Afinal eu era uma executiva de sucesso, tinha começado minha carreira em Wall Street e com menos de 30 anos já liderava uma equipe de mais de 15 pessoas.

Eu era a mulher fortona. Eu não precisava de ninguém

(Santa ignorância. Dá pra revirar os olhos umas 1000x??? 🙄🙄🙄🙄🙄 )

A cada dia sentada na cadeira do Dr. Engels eu inventava uma nova doença, como Alvy Singer em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (p.s. adoro e recomendo os filmes do Woody Allen).

Primeira semana de terapia

- Dr. Engels eu não tenho nenhum transtorno psicológico e psiquiátrico. Não vou tomar remédio porque não preciso. Na verdade eu tenho um tumor no cérebro.

O Dr. Engels, pacientemente, pediu um exame. Acho que foi uma tomografia da minha cabeça.

Segunda semana de terapia

Sentei na poltrona de couro e me senti desconfortável.

- É, na verdade eu não tenho um tumor no cérebro. Mas sabe, Dr. Engels, eu tenho mesmo é esclerose múltipla. Eu não vou tomar remédio porque não preciso. Eu não tenho transtorno de ansiedade coisa nenhuma. Minha doença é real.

O Dr. Engels ouviu tudo com compaixão. Pediu mais um exame.

Terceira semana de terapia

A poltrona de couro estava cada vez mais inabitável.

- E aí Andrea? Como foram os exames?

- Realmente, Dr. Eu não tenho esclerose múltipla. Mas eu não vou tomar remédio porque não preciso. Eu não tenho transtorno de ansiedade coisa nenhuma. Minha doença é real. Na verdade tenho AIDS.

(Oiiii??? Já deu para perceber o nível da loucura)

- Está bem Andrea, vamos fazer uns exames de sangue.

Quarta semana de terapia

Me rendi à poltrona de couro, minha cara envergonhada.

- Tá certo Dr Engels, eu não tenho AIDS. Na verdade eu acho que eu não tenho mesmo nada físico. O Sr. tem razão. Estou estressada e venho tendo crises de pânico. Não quero mais viver assim.

Chorei.

As lágrimas escorriam trazendo alívio e esperança. A poltrona de couro me abraçava enquanto meu corpo trêmulo e pequeno se desvencilhava de todo o peso que vinha carregando.

- Excelente Andrea! Podemos começar o seu tratamento.

Por seis meses, mergulhei em um regime de antidepressivos e ansiolíticos. Para a minha surpresa respondi bem. Os remédios me resgataram dos pensamentos obsessivos e compulsivos sobre doenças imaginárias. Gradualmente comecei a ganhar clareza mental.

A dor de permanecer naquele lugar, levando uma vida sedentária, com fadiga mental e emocional, comendo mal e dormindo pior era insuportável.

Foi então que eu tomei uma das melhores decisões da minha vida.

(Se você quer saber “como tomar boas decisões”, na Edição #003 eu mergulho neste assunto)

A partir desse dia, eu estava determinada a mudar meus hábitos e viver alinhada com o que eu realmente amava, sem cair no abismo do burnout. A terapia passou a fazer parte da minha rotina semanal. Até hoje, não abro mão dela. Não saberia como me expor e trabalhar com a internet sem esse suporte.

Então quero te dizer duas coisas importantes:

1 - Se você estiver muito mal, peça ajuda. Ninguém faz um carnaval sozinho. Procurar auxílio é um ato de amor próprio.

2 - Mude os seus hábitos para ter uma vida plena. Quero explorar nesta edição como é possível mudar hábitos, alcançar seus objetivos e viver uma vida mais alinhada com quem somos.

A Ciência dos Hábitos

Alterar um hábito é uma tarefa que parece universal, mas na verdade não é bem assim. O tempo necessário para a formação de um hábito depende:

  • da complexidade da tarefa

  • do indivíduo

  • das circunstâncias

Um estudo da pesquisadora Dra. Phillippa Lally e sua equipe da University College London, revelou que, em média, levam-se cerca de 66 dias para que um hábito se torne automático, mas esse tempo pode variar de 14 a 300 dias.

Por exemplo, o hábito de beber água pode ser formado rapidamente, pois você só precisa mantê-la em uma garrafa ao seu lado. Fácil.

É diferente de ir à academia que envolve um deslocamento, interação social e abrir mão de um tempo da sua vida para dedicar-se àquilo.

A conclusão principal é que a complexidade da tarefa desempenha um papel fundamental na formação do hábito.

Além disso, no cérebro, hábitos e vícios têm a mesma origem: o córtex pré-frontal. No entanto, costumamos nos referir a hábitos como algo bom e a vícios como algo ruim.

Como disse Immanuel Kant, um influente filósofo alemão do Iluminismo, "liberdade é a vontade que luta contra o desejo." O desejo representa o seu hábito, enquanto a vontade que luta é o seu verdadeiro eu. É a consciência que luta contra os desejos do seu corpo/seu ego.

Um hábito se forma quando você o repete muitas vezes até que seu corpo execute o comportamento automaticamente. Tudo que nosso corpo pratica, ele aprimora. Você fica bom naquilo.

Só que quem tem vícios ficou bom em se prejudicar.

Portanto, desenvolver um novo hábito envolve substituir um hábito indesejável por um hábito saudável. O novo hábito pode ser visto como um vício, só que positivo.

Daí é só repetir, repetir, repetir…

"Nós somos repetidamente o que fazemos. A excelência, então, não é um ato, mas um hábito.”

Aristóteles

O Ciclo do Hábito

Mudar um hábito é uma jornada que envolve compreender o ciclo do hábito. O ciclo do hábito é composto por três elementos:

  • A deixa (gatilho): desencadeia o hábito. É o estímulo cerebral que te faz agir. Por exemplo, a curiosidade pela vida alheia te faz olhar para o celular a cada 5 minutos à procura de mensagens em grupos de WhatsApp.

  • A rotina (comportamento): é a forma que executamos a deixa, seja ela mental, emocional ou física.

  • A recompensa: a liberação de dopamina indica para o seu cérebro se vale a pena repetir o ciclo no futuro - ou seja, virar um hábito.

Para eliminar um hábito indesejável, é importante identificar a deixa que o desencadeia e reestruturar a rotina. No entanto, isso requer determinação e força de vontade. Como disse Charles Duhigg, autor de "O Poder do Hábito", um hábito não pode ser erradicado; ele deve ser substituído.

O Ambiente Molda quem Você é!

Se você quer mudar um hábito você deve se preocupar em andar e conviver com pessoas que tenham o hábito que você quer adquirir. A diferença entre pessoas que conseguem mudar um hábito daquelas que não conseguem é o ambiente em que elas vivem.

Se você vive em um meio onde as pessoas bebem, fumam e usam drogas vai ser muito menos provável você conseguir desenvolver hábitos saudáveis e criar uma rotina para cuidar do seu corpo.

Na época do meu burnout eu pesava 38kg, tinha uma alimentação desregulada, um sono precário, não treinava, vivia para o trabalho e também fumava (🤢 parece outra vida, juro!).

Portanto, o primeiro passo era alterar o meu contexto.

O Poder do Contexto

Cerca de 43% das coisas que as pessoas fazem todos os dias estão relacionadas a hábitos que são praticados quase sempre nos mesmos contextos. Controlar o contexto é essencial para mudar um hábito.

Para controlar o contexto, você deve modificar as pistas contextuais.

Por exemplo, se você desenvolveu o hábito indesejável de comer mais do que precisa, você pode reorganizar sua geladeira para que os alimentos saudáveis fiquem mais visíveis e acessíveis. Ao abrir a geladeira e se deparar com uma fruta ao invés de um bolo de chocolate, você altera as pistas contextuais. Se for comer em um restaurante, escolha pratos menores e se sente-se em um local onde não possa ver o buffet.

Moldando Novos Hábitos: Reduzindo o tempo nas Redes Sociais

Semana passada meu tempo na frente das telas aumentou 180%. 🤡

Todos já ouvimos falar sobre o impacto das telas e das mídias sociais em nossa saúde mental mas, ainda assim, reduzir o tempo de telas é desafiador. Concorda?

Um estudo aponta que 56% das pessoas no Brasil não ficam longe do smartphone por mais de 1 hora. Acho chocante e ao mesmo tempo sei que também sou viciada nessa “chupeta de adulto” como diz o Guilherme Salles em sua newsletter fenomenal (clique para ler).

Como mudar a pista contextual para reduzir o tempo na frente das telas?

  1. Identifique a Deixa (Gatilho): O gatilho pode ser o impulso de verificar as redes sociais sempre que há uma pausa no trabalho ou durante momentos de tédio.

  2. Reestruture sua Rotina (Comportamento): Em vez de permitir que o impulso seja satisfeito imediatamente, a proposta é tornar esse hábito mais difícil.

    Dicas práticas:

    • Coloque seu smartphone para carregar no banheiro e não ao lado da cama.

    • Use o app Forest, Plantie ou o Focus que bloqueia o seu celular para que você consiga ser mais produtiva.

    • Remova todos os aplicativos de redes sociais para uma pasta no telefone, adicione restrições de tempo ou remova os ícones da tela inicial.

    • Desative todas as suas notificações, principalmente do WhatsApp.

  3. Recompensa: Ao longo do tempo, a recompensa maior será o ganho em produtividade e o tempo extra disponível para atividades mais significativas. Use esse tempo para fazer coisas por você.

  4. Modifique o seu Ambiente: Além das mudanças no telefone, você pode criar um espaço de trabalho mais propício à concentração ou estabelecer horários específicos para verificar as redes sociais.

A Importância da Motivação

Como eliminar hábitos que me prejudicam?

  • Não adianta ficar sentado só consumindo conteúdos sobre desenvolvimento pessoal

  • É preciso AGIR!

  • Mudar um hábito exige treinar a sua força de vontade

A motivação é um fator-chave na formação de hábitos. Ela envolve ter um motivo para a ação.

Além disso, lembre-se do ambiente (ele pode não ser só físico): acompanhar pessoas que já possuem o hábito que você deseja adquirir pode ser altamente motivador. Por isso me espelho na Serena Williams.

O Que Aprendi sobre Motivação com Serena Williams

Voltei a jogar tênis recentemente e resgatei toda a minha admiração de adolescente pela Serena Williams. Não só como tenista, mas como exemplo para nós, mulheres.

Serena irradia força, determinação e resiliência, demonstrando que as mulheres podem prosperar em campos historicamente dominados por homens.

Sua rotina de treino e os hábitos inovadores que ela criou desempenharam um papel fundamental em sua carreira excepcional. Mas acima de tudo o que admiro é a sua mentalidade.

Treino Matinal Consistente: Serena tem um compromisso rigoroso com o treino matinal. Ela começa seu dia cedo, muitas vezes antes do amanhecer, para evitar distrações e se concentrar totalmente em seu treinamento.

Meu treino matinal é a escrita. Tem dias em que escrevo coisas das quais me orgulho. Em outros dias escrevo mal. Mas pratico e repito, para um dia chegar à excelência.

Meditação e Visualização: Talvez você não saiba disso, mas a Serena incorpora a meditação e a visualização em sua rotina de treino. Ela passa um tempo refletindo sobre suas metas e visualizando seu sucesso nas quadras, o que contribui para sua confiança. Sua motivação vem de dentro, e ela estabelece metas claras para sua carreira. Isso a ajuda a manter o foco e a determinação.

Aprendi com a Serena a criar o meu quadro dos sonhos. Tenho ele pendurado na parede para me guiar quando me perco de mim.

Preparação para a Adversidade: Imprevistos podem acontecer durante uma partida de tênis e para enfrentar essas situações difíceis, a Serena mantém uma atitude resiliente.

Encaro o empreendedorismo e a vida como uma partida de tênis. Imprevistos acontecem. Ora você ganha o “game", ora perde. Certos dias você faz um “ace” e comemora. Outros pensa em desistir e joga sua raquete no chão, cheia de raiva.

Nesse jogo de longo prazo, aprendemos que cada ponto, seja ganho ou perdido, é uma oportunidade para crescimento. Cada emoção vivida, uma peça crucial na construção da nossa jornada única.

“Existe uma voz na sua cabeça que tenta de deixar medíocre, porque ela só quer conforto e prazer. Ela fala para você treinar menos, comer o que quiser, dormir tarde. Não negocie com essa voz.”

Kobe Bryant

Os Seus Hábitos Determinarão o Seu Futuro

Lembre-se de que a mudança de hábitos não acontece da noite para o dia. É preciso determinação, paciência e consistência.

Observe seus hábitos atuais, liste todos eles por uma semana e esteja disposta a agir. Seja honesta com você mesma e me mande notícias da sua evolução seja no direct do Instagram ou por aqui.

Acima de tudo, é preciso acreditar na mudança!

“Nada deve parecer impossível de mudar.”

Bertolt Brecht

Desejo, com todo a sinceridade do meu coração, que cada um de nós construa o mais belo dos hábitos: o de se amar. Que esse amor se estenda aos nossos corpos, às nossas almas, e a todas as formas de vida que encontramos neste caminho. Quando cultivamos o amor próprio, transformamos não apenas nossos hábitos, mas também o mundo ao nosso redor. Que a revolução comece dentro de nós.

Te vejo na próxima Edição do Laboratório do Ser.

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Na próxima edição #006

  • Na próxima edição vou falar sobre Como Descobrir os seus Dons e Talentos

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✍️ Escrita por Andrea Felicio compartilhando experiências pessoais ao redor dos temas: Mentalidade, Mulheres e Marketing.

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