Síndrome de Gisele Bündchen

Laboratório do Ser - Edição #014

Entrei para o mercado de marketing digital em 2020, como a maioria das pessoas que conheço. Ao longo desses anos, nas mentorias que participei, o que mais ouvi foram especialistas dizendo: “Quando eu achar um bom coprodutor…quando eu tiver um bom estrategista……."

Eu chamo de Síndrome de Gisele Bündchen. Nada contra a Gisele, como você verá mais adiante.

Mas quem tem a Síndrome de Gisele pensa que ainda não teve sucesso porque não foi “descoberta".

Enquanto espera ser “descoberta”, ela se dá ao luxo de não postar, não agir, não focar, não se dedicar para que o seu negócio prospere.

Ela fica esperando todos os planetas se alinharem no céu para ela “dar certo" só que o dia perfeito nunca chega.

E por que esse dia nunca chega?

Porque ele não existe.

O estrategista perfeito não existe. A equipe perfeita não existe. O produto perfeito não existe. A mentoria perfeita não existe.

Vejo claramente que as pessoas que não dão certo negócios, ou na vida, caem sempre no erro de esperar uma “revelação divina".

Tornam-se inertes diante da vida. Vítimas.

A pessoa “vítima” exige do outro o que não está disposta a fazer por si mesma. Cobra dos outros ou da vida: “Me tire daqui. Você me deve."

Essa atitude é típica dos perdedores, que colocam todo o seu poder nas mãos de outras pessoas.

Quer ser protagonista? 

Esteja disposto a buscar soluções. Ao invés de reclamar, tome as rédeas da própria vida e busque respostas, até o fim, custe o que custar.

Não espere que os outros mudem. Seja você a mudança que quer ver nos outros e no mundo (já dizia Gandhi).

O mesmo se aplica à sua empresa.

Se você não leva o seu conteúdo a sério, não adianta contratar o melhor social media do mundo. Ele também não levará a sério.

Se você não é a primeira a acreditar nos seus cursos e nos seus produtos, não adianta contratar o melhor vendedor do mundo. Ele também não conseguirá vendê-los.

Se você não senta a bunda na cadeira para estudar e criar o seu método autoral, não adianta contratar o melhor estrategista ou coprodutor do mundo. Ele também não fará.

Se você não cumpre os prazos que você estabelece, sua equipe também vai atrasar e achará que é normal.

Se você não reconhece o esforço da sua equipe, eles jamais enxergarão o seu.

Se sua empresa não cresce é porque você também ainda não amadureceu.

Esperando por Godot

Paul Sparks e Michael Shannon na peça de Samuel Beckett - Esperando por Godot

Quando eu morava em Nova York, vi a peça “Esperando por Godot”, do dramaturgo irlandês Samuel Beckett, em algum teatro Off Broadway. Os personagens principais, Vladimir e Estragon, passam a maior parte do tempo esperando por alguém chamado Godot.

Godot nunca aparece, e os personagens continuam a esperar por ele sem nunca realmente saber quem ele é ou se ele virá.

Lembro que comecei a me revirar na cadeira do teatro porque o tema da espera, da incerteza e da falta de significado, começou a me dar um desespero.

Eu sou ariana com ascendente em sagitário gente, não dá pra ficar nessa moleza esperando sabe Deus o quê!!!

Achei o final bem trágico e saí do teatro morrendo de raiva. Os personagens continuaram na mesma situação de espera, criando um ciclo repetitivo e sem resolução.

É claro que a peça é uma reflexão sobre a condição humana e a busca por um propósito na existência. A meu ver, a "prisão” de ter que buscar um propósito grandioso, como se fosse um gps imprescindível para nortear a vida, é algo imbecil. Falei disso na Edição #007 do Laboratório do Ser.

Trazendo para o mundo dos negócios, já pensou em como muitas vezes ficamos na expectativa, assim como Vladimir e Estragon esperando por Godot?

Muitos empreendedores aguardam o momento perfeito, o parceiro ideal, ou a estratégia infalível. Às vezes, esperamos tanto que perdemos a oportunidade de agir no agora.

Aguardar pelo dia perfeito te fará enterrar os seus projetos de forma silenciosa.

A estratégia ideal pode ser uma ilusão. E você fica aí alucinado, correndo atrás da próxima estratégia infalível, como estivesse participando da próxima corrida do ouro, enquanto a sua empresa vai pro buraco.

O sucesso está na jornada, não na espera pelo destino perfeito.

A Escada Que Não Leva a Lugar Algum: A Busca Irreal do Sucesso Feminino

Vamos começar pela definição de sucesso?

A busca pelo sucesso conforme conhecemos hoje é algo relativamente novo na humanidade. Começamos a buscar uma carreira com propósito e significado somente após a segunda guerra mundial.

Para os homens, o sucesso tem uma tradução muito simples e linear: vencer.

Percebo que para nós mulheres é algo mais complexo, que às vezes gera incongruência entre desejos, valores e crenças.

Queremos vencer. Mas queremos vencer criando uma família, tendo filhos, sendo a principal responsável pela administração do lar, fazendo tudo perfeito. Queremos sucesso e também uma boa alimentação, saúde, um estilo de vida saudável. Percebe como é mais complexo?

Em seu livro “Mulheres não são chatas, mulheres estão exaustas”, Ruth Manus descreve a mulher de sucesso desta forma:

(…) aquela que acorda bem cedo, sorrindo e bem-disposta, sem olheiras, corre 5 quilômetros, toma banho ouvindo música, lava seus cabelos (que secam naturalmente e ficam lindos), veste uma roupa elegante em seu corpo magro, calça seus sapatos de salto, acorda as crianças com um beijo na testa (bom dia meus amores), veste-as, (penteia seus cabelos, porque também é feio delegar essas coisas para uma funcionária), toma o seu café da manhã balanceado, dá um beijo no seu marido fiel e bem sucedido (com quem certamente transou na véspera, porque no século XX, também não podemos ter um casamento sem vida sexual de sucesso em meio ao caos), leva as crianças para a escola (com seus lanchinhos orgânicos e todas as lições de casa feitas corretamente com a ajuda dos pais), segue para o escritório no qual ela é a chief-executive-of-foreign-business-and-new-development-mother-of-the-dragons-unburnt-breaker-of-chains e lidera o trabalho de 45 pessoas), sem nunca perder o equilíbrio nem as estribeiras, ganhando um salário notável e sendo digna de um grande prestígio perante o grupo internacional, mas como ela trabalha com eficiência e organização, sempre sai cedo para buscar as crianças, passar na casa dos pais para dar um beijinho, jantar em família e preparar uma caça ao tesouro, seus filhos adormecem serenamente às 21h, havendo tempo para uma taça de vinho e conversas gostosas com seu adorável marido, para assistir uma série (para estar antenada com os interesses dos trainees millenials da empresa) e para ler 15 páginas de um romance de Tolstói antes de adormecer, com seu antirrugas todos bem espalhados pelo rosto, pescoço e colo.

Essa imagem da mulher bem-sucedida é irreal!!!

Vamos ser sinceras: temos muito pouco tempo no mercado de trabalho e ainda somos a minoria em grandes cargos de liderança. Sendo assim, não temos referências sobre o sucesso feminino e acabamos seguindo as referências disponíveis, que são, em sua grande maioria, baseadas nos sonhos masculinos.

Não acredita? Faça o teste. Digite mulher de sucesso no google.

O resultado da busca

A maioria esmagadora das imagens retrata uma mulher magra, branca, de terninho, em ambiente corporativo, sempre SOZINHA, com uma capa de super-heroína (aff, essa para mim é a pior), subindo uma escada que leva ao “topo” e sei lá onde fica esse topo porque olha, na foto não tem nada (ganhou até o segundo lugar no ranking da pior foto).

O google não criou isso. Ele apenas evidencia o que centenas de sites escolheram como imagens para representar “a mulher de sucesso".

Nessa realidade onde só existe uma referência, você acaba caindo em uma bifurcação traiçoeira:

  • Primeira armadilha: Você se identifica com essas imagens do insconsciente coletivo e segue um script que não é seu para atingir o tal sucesso e “chegar ao topo". Ao chegar lá, percebe que está infeliz e não vê sentido nos seus resultados. Mergulhei de cabeça nessa primeira cilada quando fui trabalhar em Wall Street, querendo mostrar para todo mundo (e especialmente para o meu pai) que eu era incrível.

  • Segunda armadilha: Você NÃO se identifica com estas imagens e passa a acreditar que sucesso não foi feito para você. Aí você abraça a Síndroma de Gisele Bündchen, procrastina seus projetos e acaba construindo uma vida onde a realização dos seus sonhos parece sempre ficar no horizonte distante.

Precisamos passar a ver na internet imagens de mulheres bem-sucedidas de diferentes cores de pele, estilos, que estejam descalças, na natureza, rodeadas pelos seus filhos. Mulheres gordas, negras, mães, mães de pets….

É urgente criar referências de um NOVO FEMININO que sirva de guia para as futuras gerações.

Para isso, precisamos quebrar várias crenças e lealdades sistêmicas para que possamos fazer diferente. Meu desejo fervoroso é que a gente possa moldar a visão de uma mulher humana, imperfeita, que não esteja sobrecarregada com a obrigação de dar conta de tudo, e que não definha enquanto espera por Godot.

Sucesso, para mim, é sentir-se realizada simplesmente por ser quem você é.

A Vergonha de Não Ser o Suficiente

Aprendi com a Brené Brown, em seu livro “A Coragem para Ser Imperfeito”, que somos incessantemente assombrados pelas vozes da vergonha, ecoando o mantra: “Eu não sou o suficiente."

  • “Eu ainda não posso me amar porque não sou magra o suficiente, rica o suficiente, talentosa o suficiente, feminina o suficiente, forte o suficiente, criativa o suficiente, admirada o suficiente, feliz o suficiente…”

  • O que será que os outros vão achar?

  • Ninguém pode descobrir que sou assim….

  • Vou fingir que está tudo bem

  • Posso mudar para me encaixar.

  • Quem você pensa que é para divulgar suas idéias, pensamentos, crenças, textos, videos, arte, podcast para o mundo?

  • Tenho que dizer sim para todo mundo.

Vergonha é aquela sensação calorosa que nos envolve, nos fazendo sentir pequenos, imperfeitos e nunca bons o suficiente.

Brené Brown - A Coragem de Ser Imperfeito

A vergonha é:

  • O medo de não sermos dignos de amor

  • Sempre sobre medo

Para ajudar uma mulher a agir, você vai precisar ensiná-la a reconhecer a vergonha e atravessá-la, mantando o seu valor e autenticidade (falo mais sobre autenticidade na Edição #001 do Laboratório do Ser).

Você terá que mapear com ela 5 variáveis:

  1. As crenças de não merecimento e desamparo para desenvolver o seu autoamor.

  2. O pavor das incertezas naturais da vida para fortalecer a sua fé.

  3. O perfeccionismo e busca idealizada pelo momento perfeito para reconhecer a sua humanidade.

  4. O medo de falhar (O Sucesso é Um Tropeço e como encarar os erros foi tema da última Edição que soltei semana passada).

  5. A fuga da dor - sim, crescer dói.

Na Certificação Profissional Mulheres Cíclicas trabalhamos todas nossas referências de sucesso. Ainda dá tempo de se inscrever. É só clicar aqui para acessar a Lista de Espera.

A Verdadeira Gisele - Os Bastidores de Uma Protagonista na Era da Síndrome

Na era da Síndrome de Gisele, onde muitos aguardam ser “descobertos” antes de brilharem, é inspirador olhar para a própria Gisele Bündchen e seu percurso nas passarelas e além. Enquanto alguns permanecem na penumbra, Gisele não esperou por um momento mágico; ela criou seus próprios momentos.

Ou seja, Gisele não tem Síndrome de Gisele Bündchen 😝

Lembro nitidamente de ter deparado com essa foto momentos antes dela desfilar nas Olimpíadas de 2016. Senti um arrepio percorrer a minha pele.

Gisele não apenas atende às expectativas, ela as redefine. Seu profissionalismo é evidente em cada passo de sua carreira.

Repare bem na imagem: um camarim surrado, clamando por uma nova camada de tinta, tomadas sem espelho e cadeiras desconfortáveis. Ela, sublime, de olhos fechados, imersa em meditação. Consciente da responsabilidade que carrega com sua influência. Focada em entregar o seu melhor.

Pronta para ser grande, amadurecer, crescer e tomar posse de tudo que é seu.

Dentro do meu 🧠

📕 (1) O que recomendo ler:
A Coragem de Ser Imperfeito - Brené Brown

🎥 (2) O que estou assistindo:
Podcast VTurbo com Alan Nicolas - tenho estudado (e usado) muito IA, inclusive para aprimorar meus posts, corrigir a ortografia das minhas news e ganhar TEMPO. Alan é simplesmente o gênio da Inteligência Artificial e esse podcast vale cada segundo das 3 horas que me dediquei para assistir. Se você não quer apenas se adequar à massa, mas sim elevá-la, considero esse material obrigatório.

 🎧 (3) O que estou ouvindo:

Save the Cat - um livro sobre Copywriting. Busco melhorar minha capacidade de contar histórias.

👁️ Laboratório do Ser #015 - próximo domingo 18h

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✍️ Escrita por Andrea Felicio compartilhando experiências pessoais ao redor dos temas: Mentalidade, Mulheres e Marketing.

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