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O Elefante na Sala: Como Encarar Adversidades e Iniciar Conversas Sinceras

Laboratório do Ser - Edição #025

O Elefante na Sala

“Nossa, tá muito calor essa semana, né?”

“Você viu que acabaram as vacinas da Pfizer?”

“Quando será que as crianças voltam às aulas? Não aguento mais essas aulas online… estou enlouquecendo!”

Todos evitavam falar do Elefante na Sala… e com o tempo a distância entre nós só crescia.

Você também evita falar de assuntos difíceis?

O Amigo Que Nada Pergunta

Se você leu eu a Edição #002 do Laboratório do Ser, ou me acompanha há mais tempo, já sabe que em janeiro de 2021, em plena pandemia, descobri que eu estava com câncer. Era um tipo de câncer de mama mais agressivo, chamado HER 2+.

Agradeço todos os dias por ter descoberto a doença em 2021 e não há vinte anos, pois não haveria tratamento para mim. Por isso sou muito grata à ciência e aos avanços tecnológicos produzidos por médicos e estudiosos, principalmente os oncologistas, que lutam pela vida.

Hoje não quero falar da doença em si, mas do olhar para os doentes. Espero poder trazer um pouco de luz sobre como encarar adversidades e iniciar conversas sinceras.

Certamente a parte mais difícil da doença não foram as quimioterapias, a mastectomia radical, as radioterapias. O que mais doeu foi o elefante na sala.

Não foi uma decisão leviana, mas na época escolhi compartilhar publicamente no Instagram, que eu tinha sido diagnosticada com câncer de mama.

Documentei uma boa parte da jornada. Sei que ajudei muitas pessoas, mas também fui ajudada por várias mulheres que haviam passado por isso.

Me apoiei em pessoas que antes eram completas desconhecidas. Trocamos intimidades, medos, angústias e nossos desafios diários. Criei uma rede de apoio e pude entender, na pele, como é curativo conversar com outras pessoas que enfrentam os mesmos desafios pelos quais estamos passando.

Ao mesmo tempo em que recebi apoio e acolhimento de estranhos, senti um enorme distanciamento das pessoas mais próximas.

Depois do diagnóstico, muitos se afastaram, inclusive familiares.

“Será que não se importavam?”

“Será que era difícil demais encarar a própria finitude ao vê-la tão estampada na minha pele?”

Enquanto alguns amigos próximos sequer perguntaram se eu estava bem ou se estava precisando de alguma coisa, outros quando me viam, só falavam de amenidades.

“Nossa, tá muito calor essa semana, né?”

“Você viu que acabaram as vacinas da Pfizer?”

“Quando será que as crianças voltam às aulas? Não aguento mais essas aulas online… estou enlouquecendo!”

Essas pessoas evitavam completamente falar do Elefante na Sala: o câncer.

Sheryl Sandberg diz em seu livro, Plano B, que essas pessoas se tornam “O Amigo Que Nada Pergunta".

Todos nós temos um amigo assim.

Você pode estar passando por um divórcio litigioso terrível, ter sido demitido do emprego, ter tido um aborto, ter perdido seu cachorro, seu filho pode ter sido diagnosticado com uma doença debilitante, você pode ter perdido seu irmão ou seus pais de forma abrupta e precoce…

Tanto faz o desafio.

Todos nós passamos e ainda passaremos por muitos outros ao longo da vida e O Amigo Que Nada Pergunta jamais, em momento algum, fará alguma pergunta sobre esses assuntos considerados “sensíveis" ou “proibidos".

O Amigo Que Nada Pergunta contribui para nosso isolamento e é essa sensação que mais dói.

É claro que alguns amigos que nada perguntam são simplesmente autocentrados demais. Outros podem ter um estilo de apego evitativo e por isso fogem de conversas mais íntimas.

Já outros talvez não soubessem muito bem o que perguntar ou temessem falar algo inadequado.

Racionalmente, eu até conseguia entender porque não me perguntavam como eu me sentia, mas emocionalmente eu me sentia invisível.

Ao ignorar o elefante na sala, ele só crescia. Com isso, contribuía para o abismo avassalador que passou a a existir entre nossos corações.

Não quero apontar dedos para ninguém, mas talvez a gente possa refletir sobre como agir, quando realmente não parece haver nada para falar.

Como Iniciar Conversas Sinceras

Conversas sinceras

A doença não é o único tipo de adversidade que invoca constrangimento por ser um assunto velado. 

Qualquer tipo de perda ou destino difícil pode nos deixar sem palavras. A perda de todo o seu patrimônio. Traição. Divórcio. Abuso. Prisão. Vício. Suicídio. Abortos.

Toda tragédia vem cercada de “chavões” como: “tudo tem um porquê” ou “você vai sair dessa, tenho certeza", “o tempo é um senhor remédio" ou ainda “seus pais permanecem vivos em você".

A verdade é que você não sabe se “vai ficar tudo bem" e, ao invés de simplesmente dizer “Eu vejo a sua dor e percebo que está muito difícil. Estou Aqui para você", você fala essa asneira.

Eu mesma, com a melhor das intenções, já errei e usei alguns desses "chavões".

Sheryl Sandberg sugere que, da próxima vez que um amigo próximo ou algum familiar for diagnosticado com câncer ou outra doença grave, você experimente simplesmente dizer: “Sei que você não sabe o que vai acontecer, e eu também não. Mas você não vai passar sozinha por essa. Vou estar ao seu lado por todo o caminho.”

Eu vejo.

Reconheço que dói.

Me importo com você.

Três frases curtas criam pontes onde antes haviam abismos.

A Teoria dos Anéis de Susan Silk

A Teoria dos Anéis

A psicóloga Susan Silk, que também teve câncer de mama, escreveu um artigo para o LA Times: “How not to say the wrong thing” (Como não falar a coisa errada) onde ela desenvolve o esquema acima.

Ela propõe colocar no centro de um círculo o nome da pessoa no centro da tragédia. Em seguida, você deve desenhar um círculo ainda maior em torno do primeiro e escrever os nomes das pessoas mais afetadas pelo acontecimento. Este círculo geralmente contém os nomes de familiares próximos (pais, irmãos, filhos).

Então continue traçando círculos cada vez maiores para as pessoas próximas da crise. O próximo círculo é dos amigos de verdade, depois vem os colegas, parentes mais distantes e pessoas conhecidas.

Qualquer que seja a sua posição no círculo, você deve oferecer consolo aos que estão mais para o centro (Comfort In) dos círculos e buscar conforto nos que estão mais para fora (Dump Out).

Isso significa consolar as pessoas mais próximas do trauma e se apoiar nas que estão mais afastadas.

Susan desenvolveu o esquema porque cansou de ouvir comentários inadequados, principalmente de colegas mais afastados. Uma colega em particular queria visitar a Susan após a cirurgia, mas Susan não queria receber visitas e foi clara quanto a isso. A resposta de sua colega: “Isso não é somente sobre você!!!"

Oi????

“Meu câncer de mama não é sobre mim? É sobre você???”

A técnica do esquema evita esse tipo de resposta inadequada e funciona para todo tipo de crise: problemas médicos, legais, financeiros, românticos e até existenciais.

As regras são claras:

A pessoa que está no centro dos círculos, que experienciou o trauma, pode falar o que ela quiser para qualquer pessoa, em qualquer lugar.

Ela pode passar por todos as 5 Etapas do Morrer (escrevi sobre isso na Edição #20 da Newsletter). Ou seja, ela pode sentir raiva, pode reclamar, pode achar a vida injusta e se perguntara “Por que Eu?"

Essa é a vantagem de estar no centro do círculo.

Os demais só podem falar esse tipo de coisa para quem está mais para fora do círculo.

Comfort In, Dump Out.

Se Estiver Difícil, Peça Ajuda

Construa redes de apoio

Quando descobri o câncer de mama eu não tinha uma rede de apoio composta de mulheres que já haviam passado por isso. Nada sabia sobre câncer de mama, nem o que esperar.

Diante de mim, duas opções: não contar para ninguém, ou somente para poucas pessoas ou abrir minha vida, como um livro, para que outras pessoas pudessem entrar.

Eu respeito a decisão de cada um. Sei que o passo que dei não é o certo para algumas pessoas e está tudo bem. Vale ressaltar que é preciso ter uma dose de autoconhecimento, amor-próprio, mais uma pitada de segurança para abrir nossa vulnerabilidade para os outros.

Mas quero contar um pouco sobre a minha experiência. Recebi orações, envios diários de Reiki, uma leitora confeccionou uma santa linda, a Nossa Senhora de Nazaré, carinhosamente apelidada de Nazinha, e mandou entregar na minha casa. Recebi tiaras de alunas para ajeitar meus cabelos ralos. Mimos dos vizinhos. Flores. Muitas flores.

Acima de tudo recebi muito amor. Tanto amor que preencheu meu coração. O amor acelerou a cura.

Dia 26 de abril recebi um PET scan já negativo para câncer, após somente 3 quimioterapias, quando eu teria que fazer 18. Nada mais brilhava. Chorei de alívio, alegria, orgulho e gratidão. Uma mistura de todas as coisas boas da vida.

Tenho certeza que cada mensagem de apoio, mas principalmente o amor, contribuíram para o meu propósito, que era sair do outro lado e sobreviver.

Mas, para além disso, construí uma rede de apoio composta de outras mulheres que também enfrentaram ou estavam enfrentando o câncer de mama. Mulheres que venceram, outras que tiveram metástases. Cada uma no seu barco, com sua história. Todas debaixo da mesma tempestade.

O carinho diário vinha numa mensagem simples e cheia de esperança:

“Passe aturgyl na sobrancelha para não caírem!”

“Use Lipikar Baume para a pele não ressecar e depois aguentar a radioterapia.”

“Faça micro pigmentação das sobrancelhas.”

“Compre uma peruca linda!”

“Tenha um spray que cobre as falhas no cabelo.”

“Raiz de açafrão ajuda a reduzir a inflamação!”

“Essa loja tem lenços incríveis!!”.

Cada uma de nós passava pela experiência como podia e eu acredito que, antes de tudo, é preciso saber que cada organismo vai reagir de um jeito diferente. Algumas pessoas vomitam, outras não. Algumas engordam com o corticoides, outras emagrecem. É impossível comparar sua experiência com a de outros.

Dito isso, uma das melhores coisas, para mim, foi ter construído essa rede de apoio. Nos dias em que fiquei triste porque meu cabelo começou a falhar nas laterais, me permiti chorar.

Nesse dia recebi dicas de sprays que cobram as falhas no cabelo. Dicas de onde ir comprar perucas que parecem cabelos reais. Dicas de lenços e tiaras lindas.

A minha rede de apoio, que construí a partir do amor, me ajudou tanto que comecei a retribuir.

Muitas mulheres que tinham câncer começaram a me procurar dizendo que me acompanhavam porque meu sorriso trazia força diária para elas. Disseram que toda vez que eu me filmava começando a sessão de quimioterapia e escrevia na legenda “Bora para a curaaaa!!!", elas também acreditaram que a cura delas era possível.

Quando chorei no Instagram porque recebi o resultado do PET scan negativo para o câncer, elas choraram comigo.

Se eu puder resumir em uma frase a Newsletter de hoje, eu diria: Quando você sentir que precisa de apoio, peça ajuda.

Pedir ajuda é o maior ato de amor-próprio.

Basta um Abraço

Lari, Eu, Enrico… e meus balões cor de rosa

Dia 15 de junho de 2021.

Lembro como se fosse ontem. Minha última quimioterapia.

Cheguei em casa cansada e profundamente emocionada. Na minha tela mental desfilavam imagens vívidas e aleatórias dos últimos 3 meses.

Os medos, o choro abafado no travesseiro enquanto meu marido dormia ao lado, os enfermeiros que cuidavam do meu corpo físico como anjos, as músicas da Karen Drucker que me acompanhavam nas caminhadas diárias de 5km na esteira que eu insistia em fazer, as meditações da Louise Hay para a cura do meu corpo…

Minha peruquinha que apelidei carinhosamente de Ruth, o cupcake com vela que assoprei no último dia de quimioterapia.

As lágrimas, o nariz seco de tanto sangrar, as risadas, os aniversários, os sushis que não podia comer, as viagens que fui convidada a adiar, a Editora Saberes Sistêmicos que continuava crescendo. As lives. Minhas alunas.

“Onde há vida, há esperança", pensei.

Nessa hora recebi um WhatsApp: era a Lari, minha amiga desde os 24 anos.

WhatsApp da Lari

A Lari entrou no meu apartamento com alguns balões rosa e, sem dizer uma palavra, me envolveu em um abraço apertado. Com a voz embargada, ela disse: “Acabou. Que orgulho de você, minha amiga!"

Ela não precisava dizer mais nada. Não havia palavras suficientes. Ficamos abraçadas no silêncio, enquanto eu chorava.

Naquele instante, tive a certeza de que, nos momentos difíceis, tudo o que realmente precisamos é de um abraço.

Por Dentro do meu 🧠

🤓 O que estou estudando: O curso Escritor Milionário do meu mentor Henrique Carvalho

🎥 O que estou assistindo: Bridgerton - novos episódios na Netflix. Bem água com açúcar para descansar a mente e aquecer o coração.

🎵 O que estou ouvindo: This Or Something Better, Karen Drucker

📕 O que estou lendo: Plano B de Sheryl Sandberg e Adam Grant. Sheryl escreve sobre a perda repentina do marido e como teve que desenvolver um Plano B para lidar com a adversidade, já que o Plano A não existia mais. Um livro sobre como encarar adversidades, desenvolver resiliência e encontrar felicidade. 

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👁️ Laboratório do Ser #026 - próxima segunda 18h

Alerta de Spoiler: Dei uma sumida porque estava fechando um contrato com uma Editora grande para lançar mais um livro. Ou saía o esboço do livro ou saía a Newsletter. Por enquanto penso em escrever sobre resiliência e recomeços.

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O Gus é meu colega de mentoria e ele escreve sobre construção de hábitos para termos resultados fora da curva. Você pode assinar clicando aqui.

Abaixo indico duas Newsletters em inglês voltadas para o público feminino. A The Mommy traz várias dicas sobre a maternidade. Increva-se clicando aqui.

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✍️ Escrita por Andrea Felicio compartilhando experiências pessoais ao redor dos temas: Mentalidade, Mulheres e Marketing.

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